Por Cida de Oliveira
Que os rins têm a missão de filtrar o sangue, muita gente sabe. Missão importantíssima, aliás. Graças a eles, saem de circulação todas as impurezas que chegam ali pela artéria renal e que estão só de passagem, já que vão ser mesmo despejadas na urina, seu destino final. Só que essa dupla de órgãos faz muito mais do que isso. Os rins são responsáveis também pelo equilíbrio entre sal e água no corpo. Se esses dois elementos estiverem fora de proporção, surge o inchaço nas pernas e nos pés, sinal evidente de que algo não vai bem nesses filtros, dá a dica o nefrologista David Elias Neto, do setor de transplantes renais do Hospital das Clínicas de São Paulo e diretor da nefrologia do Hospital Sírio-Libanês, também na capital paulista.
Os rins ainda produzem a renina, enzima que estimula a secreção de um hormônio capaz de elevar a pressão arterial quando ela cai bruscamente. Mas, se não funcionam como deveriam, há uma sobra de renina, o que resulta na hipertensão doença que deve ser investigada também pelo nefrologista. É que esse mal silencioso danifica todos os vasos do corpo os renais não são exceção. E daí a situação se agrava cada vez mais.
Já ouviu falar na eritropoetina? Pois esse hormônio, responsável pela maturação dos glóbulos vermelhos do sangue na medula, também é fabricado nos rins. Se estiver em falta, surge a anemia. Sem contar que é ali, nesse órgão, que ficam estocados minerais importantes para os ossos, como o cálcio e o fósforo. Eles vão sendo liberados de acordo com as necessidades do esqueleto, conta o nefrologista João Egídio Romão Júnior, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Tem mais: não fossem os rins, a vitamina D, que o corpo absorve com a ajuda do sol, simplesmente não seria ativada. E todos sabemos a importância dessa substância para a saúde óssea.
Se a lista de funções renais é grande, o número de encrencas a que o órgão está sujeito não é menor cálculos, inflamações, infecções... (veja os complementos dessa matéria). Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 12 milhões de brasileiros sofrem de algum desses males, sendo que sete em cada dez vítimas nem sequer desconfiam. Uma ameaça e tanto, já que muitos deles, quando se repetem, podem levar à doença renal crônica (DRC).
A DRC destrói progressiva e irreversivelmente uma por uma as estruturas que filtram o sangue dentro dos rins os néfrons. No órgão sadio há nada menos do que 1 milhão deles. Quando são dizimados, a saída passa a ser a hemodiálise, a filtragem artificial do sangue. No Brasil, 2 milhões de indivíduos dependem dela para viver.
Entre as principais causas da DRC estão a hipertensão e o diabete, males cada vez mais freqüentes em todo o mundo. Ambas as doenças danificam os vasos que irrigam os rins, irritando suas paredes. Assim, os filtros do corpo humano vão se deteriorando. O sinal vermelho, porém, só se acende quando sua capacidade de expulsar as impurezas chega a meros 30%. É quando a pressão dispara (mas isso, em geral, o paciente nem sempre percebe) e vem a vontade de urinar mais de uma vez durante a noite.
Dois exames são capazes de sinalizar complicações: o de urina simples, ou tipo 1, e o que dosa uma substância chamada creatinina no sangue. Eles dão um parâmetro da quantidade de substâncias que deveriam ter sido varridas mas que continuam em circulação. Claro, quanto mais impurezas, pior a saúde renal. Médicos de qualquer especialidade e não necessariamente um nefrologista podem solicitar esses testes. Então, em qualquer consulta de rotina, aproveite para sugeri-los, caso o próprio clínico não tome essa iniciativa.